Entre 22 de novembro de 2024 e 25 de janeiro de 2025, o Brasil assumirá a liderança da Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica, uma das maiores iniciativas científicas já realizadas na região polar. Essa expedição é um marco não apenas pela sua amplitude – cobrindo mais de 20 mil quilômetros da costa antártica –, mas também pelo objetivo de chegar o mais próximo possível das frentes das geleiras. A liderança desta missão está nas mãos do cientista polar Jefferson Cardia Simões, do Centro Polar e Climático (CPC) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A expedição contará com uma equipe de 61 cientistas de sete países, incluindo 27 brasileiros associados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera e ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq).
Objetivos da Expedição
A missão é movida por três objetivos centrais que visam expandir o conhecimento sobre os impactos das mudanças climáticas na Antártica e suas implicações globais:
- Estudo das Mudanças Climáticas nas Geleiras: A expedição monitorará a resposta das frentes glaciais ao aquecimento atmosférico e oceânico, permitindo uma avaliação detalhada das interações entre a região tropical e o ambiente polar.
- Mapeamento de Hotspots de Biodiversidade: Os cientistas identificarão áreas de alta biodiversidade e analisarão como essas espécies estão respondendo às mudanças ambientais, o que será crucial para a compreensão da resiliência dos ecossistemas polares.
- Coleta de Dados sobre Poluição e Microplásticos: A equipe coletará dados sobre a presença de microplásticos e outros contaminantes emergentes nas águas costeiras da Antártica, um esforço essencial para compreender a extensão da poluição oceânica.
Tecnologias Avançadas para Monitoramento e Comunicação
Para viabilizar as pesquisas e a coleta de dados em tempo real, a expedição utilizará o satélite Starlink, que garantirá comunicação ininterrupta e a troca de informações via texto, áudio e vídeo. Além disso, o Akademik Tryoshnikov – navio quebra-gelo científico de alta tecnologia do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica da Rússia – será o principal meio de transporte e plataforma de pesquisa para essa jornada de 60 dias.
Inovação no Estudo das Conexões Atmosféricas e Oceânicas
Segundo o professor Francisco Eliseu Aquino, do Departamento de Geografia da UFRGS, a possibilidade de realizar uma circum-navegação completa da Antártica é inédita para o Brasil e permitirá uma análise detalhada das dinâmicas atmosféricas e oceânicas da região. Os cientistas realizarão perfurações no gelo e na neve para investigar a variação climática e a composição atmosférica dos últimos 100 anos. A missão possibilitará também observar o contraste climático entre a Antártica e as regiões tropicais, trazendo novos dados sobre o papel dos ventos e correntes atmosféricas nas mudanças climáticas recentes.
Colaboração Internacional e Apoio Financeiro
Esta expedição é financiada majoritariamente pela fundação suíça Albédo pour la Cryosphère, organização dedicada ao estudo e preservação dos sistemas de gelo no planeta, e recebe ainda o suporte de agências de pesquisa brasileiras, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). Além da participação de pesquisadores brasileiros de várias universidades federais, a missão conta com cientistas da Argentina, Chile, China, Índia, Peru e Rússia, demonstrando a importância de uma ação global para a preservação da Antártica e a mitigação dos impactos das mudanças climáticas.
Desafios e Significado Internacional da Missão
Os desafios desta missão são intensos, variando desde o enfrentamento de condições climáticas extremas até a logística complexa de operar em uma região isolada e inóspita. Entretanto, essa iniciativa pioneira coloca o Brasil na vanguarda da pesquisa polar, consolidando-o como um dos líderes latino-americanos no estudo das mudanças climáticas e suas consequências globais.